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Publicado em 14 de outubro de 2025
Valor Investe

A longa maratona do planejamento financeiro no Brasil

A minha semana passada foi de imersão no universo do planejamento financeiro. A cidade de Chicago, nos Estados Unidos, além de ter sido sede da 47ª maratona, foi palco para o Congresso Anual do CFP Board (organização americana que estabelece e mantém os padrões de excelência para o planejamento financeiro e administra a certificação CFP® nos Estados Unidos) e da reunião anual do FPSB (Financial Planning Standards Board, que tem esse mesmo papel no resto do mundo). Foram vários dias em que pudemos trocar experiências, práticas, desafios e oportunidades sobre essa atividade ao redor do mundo. Mais de 20 delegações estavam presentes.

Entre tantas informações que pudemos consumir nesses cinco dias de muito trabalho, um dado apresentado pelo FPSB jogou luz sobre a forma como diferentes sociedades lidam com o dinheiro e com o planejamento do futuro. Trata-se do levantamento que mostra quantos adultos (entre 25 e 69 anos) existem, em média, para cada planejador financeiro certificado CFP® ao redor do mundo.

Entre os países que participaram do levantamento os que lideram o ranking são Canadá (1.343 adultos por profissional), Hong Kong (1.385) e Estados Unidos (1.916). No polo oposto estão França (58.541), Tailândia (64.057) e Índia (236.694) que aparecem como os países onde a proporção é maior. No Brasil, esse número é de 11.644 adultos para cada planejador financeiro certificado na faixa etária definida no levantamento.

 

Mas o podemos ler desses números?

 

Para o copo meio vazio, esses números revelam o quanto ainda estamos distantes de uma sociedade que entende o planejamento financeiro como serviço essencial. A proporção de brasileiros por profissional é várias vezes maior que a de países maduros, e essa baixa penetração nos coloca diante de um desafio educacional enorme para quem atua no setor. Não apenas no Brasil, mas em muitos países, ainda há uma associação direta de que a contratação desse tipo de serviço é restrita a quem tem muito dinheiro. E isso tem de mudar.

Nos países onde essa proporção de profissional CFP® por cidadão adulto é menor, o planejamento financeiro é uma realidade mais presente do cotidiano. A contratação de um planejador financeiro é vista como natural, quase mandatória para o equilíbrio das contas e saúde das finanças. Esse profissional é tão indispensável quanto um médico de família ou um advogado de confiança. Entende-se assim que o dinheiro, não é apenas um meio de consumo, mas um recurso que precisa ser diagnosticado, acompanhado e colocado a serviço de projetos de vida.

No Brasil, ainda convivemos com uma relação ambígua com o dinheiro. De um lado, uma crescente sofisticação dos produtos financeiros, o acesso digitalizado a investimentos e a necessidade cada vez maior de decisões estruturadas. De outro, a prática de resolver questões financeiras no improviso — com base em conselhos familiares, dicas de amigos ou informações avulsas coletadas na internet. Nesse cenário, o planejamento profissional ainda é visto como luxo, quando deveria ser entendido como ferramenta essencial de organização e tranquilidade.

Se países mais maduros já consolidaram o hábito de buscar ajuda profissional, o Brasil vive agora a fase de despertar para essa necessidade. O potencial é enorme. Cada brasileiro que ainda não teve contato com um planejador é um cliente em potencial, alguém que inevitavelmente vai se deparar com a necessidade de organizar sua aposentadoria, planejar a educação dos filhos ou estruturar uma sucessão. Cabe a nós transformar essa consciência em prática e essa prática em cultura.

 

A conclusão é que não poderíamos ter nos reunido em lugar mais simbólico. Chicago foi a escolha perfeita. Além de ser uma cidade vibrante, foi inspirador acompanhar suas ruas tomadas por pessoas de todas as partes do mundo, unidas pelo mesmo objetivo: cruzar a linha de chegada após 42 quilômetros. Da mesma forma, pelos corredores do hotel, vimos profissionais engajados e determinados a transformar a realidade financeira de milhões de pessoas ao redor do globo. Duas razões diferentes, mas com a mesma certeza de que vale a pena cada passo da caminhada

 

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